Como funciona a fábrica em São Paulo onde são fabricados até um milhão de celulares por mês?
Quando nos referimos a fábricas de celulares (ou seja, ao local onde são soldadas, parafusadas e montadas as peças do telefone que finalmente levaremos na caixa), tendemos a pensar em duas coisas: por um lado, as cidades fabris chinesas como Shenzhen, onde a Foxconn e outros fabricantes constroem a maior parte dos celulares (entre outros dispositivos) do mundo, em vastos complexos que combinam enormes edifícios onde ficam as linhas de montagem com os locais onde moram as operadoras, e que foram foco de greves em 2022; ou por outro lado, na Terra do Fogo, de onde vem a grande maioria dos celulares vendidos no país, fabricados por um punhado de empresas.
Mas existem vários pontos intermédios: a Índia e o Vietname, por exemplo, têm uma presença crescente a nível mundial como centros de produção. Não é preciso ir tão longe para ver um gigante da produção em massa: em Jaguariúna, perto de Campinas, no estado de São Paulo (no Brasil) existe uma fábrica de onde saem um milhão de telefones por mês, tudo para o público brasileiro Mercado de smartphones Motorola. Faz sentido: o Brasil é, em volume, o quinto maior mercado do mundo, atrás da China, da Índia, dos Estados Unidos e da Indonésia. Para se ter uma ideia: só essa fábrica produz o mesmo que todas as fábricas da Terra do Fogo. E a Motorola tem outra em Manaus.
LA NACION visitou a fábrica por ocasião dos 10 anos do Moto G, linha de aparelhos que já acumulou mais de 200 milhões de unidades vendidas, para conhecer as múltiplas linhas de montagem que a empresa possui, das quais quase 1,5 celulares por segundo (entre Jaguariúna e uma segunda fábrica que a empresa possui em Manaus), e que são idênticas às que podem ser vistas na China ou no Vietnã para esta ou outras marcas (ou, em escala, na Terra do Fogo): um navio gigantesco onde se acomodam as diferentes linhas de produção, cada uma atribuída a um modelo específico de telefone. Em média, leva cerca de 40 minutos para que cada telefone deixe de ser uma coleção de peças espalhadas e se transforme em um telefone embalado, pronto para distribuição e posterior venda.
O local não é diferente de outros ao redor do mundo (como a fábrica que a Oppo tem em Dongguan, como contamos nesta nota), mas mesmo assim para entrar no armazém de 60 mil metros quadrados, onde ficam as linhas de montagem, é preciso sair quaisquer câmeras à parte: fotografias não podem ser tiradas, exceto em alguns pontos (e sob supervisão local): a ordem de montagem e os equipamentos utilizados para automatizar alguns processos são secretos, além do fato de que todas as fábricas são parecidas e possuem diferenças mais ou menos os mesmos fornecedores. Também é necessário usar um macacão especial, um boné e uma espécie de rabo para os sapatos, para evitar estática que pode estragar alguns equipamentos.
No caso de Jaguariúna, a fábrica funciona como o centro nevrálgico da Motorola: uma sala de controle permite ver em tempo real o que cada linha de montagem está fazendo naquela fábrica, em Manaus, na China, nos Estados Unidos, e até no país. Terra do Fogo; e saber se há algum problema com um deles. Problemas? Claro: à medida que o telefone é montado, os componentes são testados: se algum falhar, essa unidade é removida. Mas não basta: é preciso saber o que falhou, porque não é a mesma coisa se foi o componente, uma máquina de soldar ou uma pessoa; e uma falha ocasional é uma coisa, e uma falha persistente é outra.
Na verdade, ao lado de cada linha de montagem você pode ver um monitor que mostra a taxa de erros que aquela linha está lidando, quantos equipamentos foram feitos, quantos precisam ser feitos naquele dia e outros dados. Cada linha é dedicada a um determinado modelo, e elas são ajustadas de acordo com a necessidade de produzir mais ou menos unidades, e a complexidade: existem modelos de telefones com mais peças, ou que exigem outras técnicas de produção (telefones dobráveis, por exemplo).
Essa linha é, literalmente, uma grande fileira de máquinas e mesas de trabalho, numa progressão fordista em que não há esteira rolante, mas sim a transferência de lotes de telefones – em simples caixas plásticas – que passam de uma estação a outra. Em Jaguariúna há peças que são feitas manualmente e outras que são automatizadas. O objectivo claro e manifesto é automatizar tudo ao máximo, porque melhora a eficiência da linha (os gestores de fábrica presentes garantem que os operadores manterão os seus empregos e farão outras tarefas, embora a experiência internacional não seja muito encorajadora). A fábrica já funciona 24 horas por dia: três turnos de operadoras são responsáveis pela produção de cerca de 40 mil celulares por dia.
Tudo começa com uma placa plástica (uma PCB, no jargão) de até 7 camadas, onde serão soldados e conectados os componentes principais e secundários; No total, um smartphone moderno pode ter de 700 a 1.500 componentes, contando absolutamente tudo o que é adicionado àquele pedacinho de plástico, que tem um tamanho específico para cada modelo, e onde as diferentes capacidades plásticas separam as conexões metálicas para interligar os dispositivos. elementos diferentes. A isso se soma o resto das coisas – o case, a tela, a bateria; o processador e a memória são soldados; São acrescentadas câmeras, alto-falantes, microfones e muito mais, tudo em uma coreografia e uma ordem que deve ser seguida à risca: não só por uma questão de eficiência na produção, mas porque se tenta reduzir ao mínimo o espaço dentro de um dispositivo. e isso é conseguido se as peças se encaixarem de uma determinada maneira (geralmente apenas).
Muitos componentes (os diferentes chips usados em um celular, por exemplo) vêm em rolos, que as máquinas “sugam” para soldá-los, e que exigem renovação manual à medida que vão acabando; outros, aqueles que estão à mão – como módulos de câmeras – ficam em bandejas diferentes. Em outras fábricas, e para alguns modelos, o processo é diferente, e todas as peças chegam em uma espécie de embalagem (um SDK, ou kit semi-desmontado) e a mesma pessoa monta tudo.
Uma segunda etapa na fabricação do telefone envolve a verificação do bom funcionamento de todos os componentes; Cada vez mais isso é feito de forma automatizada para, por exemplo, verificar se a tela não possui pixels mortos, algo que não é mais possível fazer a olho nu. Testes aleatórios também são feitos: retirar equipamentos aleatórios de um jogo para examiná-lo minuciosamente e verificar se tudo está conforme o esperado.
E uma terceira etapa envolve a instalação do Android, em duas etapas, que talvez seja a parte mais pedestre da questão: são grandes prateleiras com os telefones plugados, nas quais está instalado o sistema operacional, uma das partes que mais demora para ser instalada. todo o processo. . Primeiramente é instalada uma versão básica – o firmware – que serve, entre outras coisas, para verificar o funcionamento de sensores, rádios e muito mais; e depois a versão do Android que você escolher; Demora um pouco menos de dez minutos.
Com o telefone já finalizado ele é colocado na caixa individual, e desde 2020 foi acrescentada uma etapa extra: cada caixa recebe uma pequena dose de um perfume que a empresa desenvolveu especificamente para seus telefones em São Paulo, e que exigiu alguns cuidados, já que É aplicado no case, mas deve ser feito de forma a não afetar o telefone enquanto ele evapora.
Com os telefones nas caixas, os paletes são montados e começa sua distribuição, desde a fábrica de Jaguariúna (administrada pela Flex, gigante da fabricação de eletrônicos no estilo Foxconn, responsável pela fabricação para Apple e outras empresas) para todo o país. os telefones nas caixas, os paletes são montados e começa sua distribuição, desde a fábrica de Jaguariúna (administrada pela Flex, gigante da fabricação de eletrônicos estilo Foxconn, responsável pela fabricação para a Apple e outras empresas) para todo o país.
Diferentemente de outras fábricas em outros países, não há fabricação para exportação: todos os celulares são feitos para o vasto mercado brasileiro. A fábrica também é uma das integrantes do Vale do Silício brasileiro, que tem o entorno de Campinas e sua universidade como grande fonte de empresas e demanda por profissionais qualificados em eletrônica.
Na verdade, bem perto da fábrica a Motorola possui um centro chave para o desenvolvimento de todos os seus softwares de câmeras, uma área historicamente fraca da empresa e que melhorou muito nos últimos dois ou três anos, graças a um maior esforço em hardware e também na área de processamento de imagens, que é feito no Instituto Eldorado, onde também foram criados alguns clássicos recentes da empresa, como os gestos para acionar a lanterna ou a câmera agitando o telefone, duas ideias que são usadas no mundo todo e nasceram no Brasil.