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Chuva contaminada: agrotóxicos proibidos envenenam água da chuva em São Paulo, aponta estudo alarmante da Unicamp

A contaminação da água da chuva por agrotóxicos em São Paulo se tornou uma realidade preocupante após um estudo de dois anos realizado pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). A pesquisa identificou a presença de 14 substâncias químicas utilizadas como agrotóxicos na água das chuvas que caíram sobre as cidades de São Paulo, Campinas e Brotas. Algumas dessas substâncias estão entre as mais perigosas do mundo e sequer têm uso permitido no Brasil, sendo associadas a riscos graves como câncer e infertilidade. A pesquisa levanta sérias preocupações sobre a segurança ambiental e a saúde pública, mesmo em regiões densamente urbanizadas e distantes dos polos agrícolas.

A presença de agrotóxicos na água da chuva de São Paulo é resultado da dispersão atmosférica desses compostos, que, após aplicados nas plantações, são levados pelos ventos e se incorporam às partículas suspensas no ar. Essas partículas acabam sendo absorvidas pelas gotas de chuva, o que espalha a contaminação por diferentes regiões. Em todos os pontos analisados pelo estudo da Unicamp, foi detectada pelo menos uma substância tóxica, incluindo o herbicida atrazina e o fungicida carbendazim, este último já proibido no país. A situação se agrava pelo fato de que o uso contínuo desses produtos químicos mantém a contaminação ativa no meio ambiente.

O estudo que revelou a contaminação da água da chuva por agrotóxicos em São Paulo foi publicado na revista científica Chemosphere e reforça o impacto ambiental causado pelo modelo agrícola brasileiro. De acordo com os pesquisadores, o Brasil, sendo um dos maiores consumidores mundiais de pesticidas, sofre com a dispersão sistemática desses compostos em todos os compartimentos ambientais. As substâncias presentes na chuva foram encontradas em quantidades similares às identificadas em rios e águas de abastecimento, indicando que o ciclo da contaminação é muito mais amplo do que se imaginava. A coleta foi realizada entre 2019 e 2021 em períodos distintos, reforçando a robustez das evidências apresentadas.

A pesquisadora Cassiana Montagner, que orientou o estudo da Unicamp, afirma que o problema da água da chuva com agrotóxicos em São Paulo não causa dano imediato à saúde em uma única exposição. No entanto, a exposição contínua mesmo a pequenas doses desses resíduos ao longo do tempo pode gerar consequências sérias. Ela compara o estudo a um quebra-cabeça ambiental que os pesquisadores vêm montando há mais de uma década. A análise da água da chuva serve como um indicador preciso da realidade do uso de agrotóxicos, revelando padrões de contaminação generalizados mesmo em regiões onde a aplicação direta desses produtos não ocorre.

Os dados levantados sobre a água da chuva com agrotóxicos em São Paulo são ainda mais alarmantes quando se considera que compostos proibidos continuam aparecendo nas análises. Isso pode indicar que ainda são utilizados clandestinamente ou que permanecem ativos no meio ambiente por muito tempo devido à sua persistência química. Além disso, os pesticidas detectados têm alta capacidade de transporte aéreo, o que os leva a locais a centenas de quilômetros de distância do ponto original de aplicação. A cidade de Brotas, por exemplo, cercada por plantações de cana-de-açúcar, apresentou níveis elevados do herbicida 2,4-D, conhecido por seus efeitos adversos à fertilidade humana.

Outro ponto preocupante sobre a água da chuva com agrotóxicos em São Paulo é que a população urbana também está exposta. Mesmo que não beba diretamente água da chuva, grande parte da água que abastece os reservatórios e chega às torneiras vem de rios alimentados por chuvas contaminadas. A água tratada pode não ultrapassar os limites legais estabelecidos para potabilidade, mas muitas substâncias encontradas sequer têm parâmetros definidos, o que torna impossível garantir a segurança da exposição crônica. Estudos anteriores já relacionaram essa exposição contínua com problemas hormonais, imunológicos e reprodutivos.

O trabalho da Unicamp sobre a água da chuva com agrotóxicos em São Paulo tem caráter de alerta ambiental e deveria motivar ações mais rígidas das autoridades públicas. Apesar das fiscalizações realizadas pelo governo estadual e da recente legislação paulista que prevê multas por uso irregular de pesticidas, os números ainda preocupam. Desde a entrada em vigor da nova legislação em março de 2024, foram aplicadas apenas 57 multas e há outros 40 processos em andamento. Isso mostra que o controle está longe de ser eficaz diante da dimensão do problema e da velocidade com que esses compostos se espalham pelo ar e pela água.

É fundamental que o debate sobre a presença de agrotóxicos na água da chuva em São Paulo ultrapasse os círculos acadêmicos e chegue à sociedade como um todo. A longo prazo, essa contaminação compromete a saúde humana, a biodiversidade e a segurança hídrica, especialmente em tempos de crise climática. O estudo da Unicamp lança luz sobre uma realidade invisível a olho nu, mas cujas consequências se manifestam lentamente em doenças e desequilíbrios ambientais. Políticas públicas de incentivo à agricultura sustentável e ao monitoramento ambiental constante são urgentes para reverter esse cenário crítico.

Diante do estudo que aponta a contaminação da água da chuva com agrotóxicos em São Paulo, fica evidente que o modelo atual de produção agrícola baseado em pesticidas químicos precisa ser repensado. O impacto das chuvas contaminadas transcende a zona rural e atinge diretamente a população urbana, colocando em risco a saúde de milhões de pessoas. A água da chuva, que sempre foi símbolo de pureza e renovação, agora carrega em suas gotas o reflexo de escolhas econômicas e políticas que priorizam o lucro sobre o equilíbrio ambiental. O tempo para agir é agora, antes que a contaminação se torne irreversível.

Autor: Beijamin Polonitvan

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